Francisco Xavier da Silva

Francisco Xavier da Silva, neto do fazendeiro do mesmo nome, nascido no norte de Portugal, pessoa que Saint Hilaire elogiou ao passar pela Comarca de Curitiba em 1820, filho de David Antônio Xavier da Silva e de Generosa de Monte Carmelo Xavier, seria o futuro homem-tipo dos governadores paranaenses, nasceu em uma fazenda do distrito municipal de Castro a 02 de abril de 1838.

Era sisudo, de poucas palavras e de grande argúcia desde os primeiros anos de vida. E porque mostrasse pendor para os estudos, foi mandado tirar curso de direito em São Paulo, onde se formou em 1860. Republicano sem exaltações e liberal com reservas, voltou ao Estado natal depois de formado, com a preocupação de fazer carreira política.

Sentiu na carne que a política não lhe era, contudo, de muita estima, mas prosseguiu no seu projeto.

Exercia seu prestígio sem apegos partidários e os nomes mais capazes eram sempre de sua preferência, não importando a origem doutrinária. Ainda na monarquia, sendo liberal, chegou a pender em favor de candidato liberal rebelde, só porque o considerava mais competente.

Nos costumes dos partidos monárquicos, a despeito de programas e bandeiras diferentes, a rotina das acomodações a interesses pessoais sendo sempre a mesma – o que não se adaptava ao seu efeito - fê-lo abraçar as convicções republicanas.

Organizado o partido que representava as idéias novas (o republicano), para Xavier da Silva se voltaram os responsáveis pela situação dominante e trataram de entregar-lhe a administração do Estado para que o salvasse das dificuldades contingentes. E ele o conseguiu, a exemplo do que fizera em Castro, como intendente municipal, de 1877 a 1881 – e de 1889 a 1891. Presidente eleito em 1892, em 1900 e em 1908, em todos os governos realizou notáveis obras públicas, sobretudo escolas, pois a busca pela qualidade do ensino era sua obsessão. Construiu estradas estratégicas e duas pontes metálicas de grande porte para o seu tempo, sobre os rios Negro e Nhundiaquara. Edifícios daquela época ainda perduram como símbolos de eficiência administrativa, entre quais o antigo Ginásio Paranaense (atual Secretaria de Estado da Cultura). Grupos escolares de 19 de Dezembro e Xavier da Silva, quartel da Policia Militar, o prédio da rua Barão do Rio Branco que serviu de sede do governo e o do Congresso (atual Câmara de Vereadores), etc.

Seus orçamentos eram escassos. Em nenhum período de seu governo recorreu a empréstimos externos. Em onze anos de administração detinha-se em consolidar as dívidas flutuantes, heranças de administrações passadas. Embora eleito pelo Partido Republicano, sempre esteve acima das questões partidárias, advogando a reconciliação dos interesses em conflito. Essa atitude de exata ética convenceu-o a desvencilhar-se do costume de indicar candidato a sua sucessão. No primeiro governo licenciou-se para tratamento de saúde, afastando-se do Paraná de 18 de abril de 1893 ate 14 de julho de 1894. Vicente Machado, vice-governador, substitui-o, inclusive, em condições dramáticas, pois teve pela frente o tropel da Revolução Federalista.

Ao assumir o governo pela segunda vez, em 1900, passou a habitual inspiração pelas repartições públicas, a começar pelo próprio Palácio. Num alçapão do forro verificou a existência de garrafas de champagne. Homem prático, ele deu ordens para que fossem vendidas. Mas como no relatório do almoxarife não constasse a receita da venda, interpelou-o: A importância era mínima, governador, pensei... As garrafas não eram suas, nem minhas, mas do Estado. O resultado da venda deverá aparecer no relatório e eu creio que o senhor compreenderá. (eram garrafas vazias...).

No seu último período governamental, em 1908, as contas do Estado estavam atrasadas vários meses. Determinou ao Secretario da Fazenda que começasse a pagar em primeiro lugar os funcionários mais humildes. Passado algum tempo o Secretario trouxe-lhe o dinheiro correspondente ao salário de presidente e o respectivo recibo. Xavier da Silva redargüiu-lhe irônico: - Bravos, senhor Secretario. Não imaginei que as finanças se restabelecessem em tão poucas semanas. Meus parabéns! Vexado, o Secretario corrigiu: - Não, senhor presidente. Melhoramos, mas não ao ponto que o senhor imagina. Pensei que o senhor pudesse estar necessitado e por isso lhe trouxe o ordenado. – Desculpe-me, doutor, mas houve engano. O meu ordenado será o ultimo que o senhor pague, sem desobedecer minhas ordens... O Secretario saiu com o rabo entre as pernas...

Mais ou menos nessa época, como houvesse três carruagens e três parelhas de cavalos, a serviço do Palácio, mandou vender todas, menos uma, com a ordem expressa: “Só para os atos oficiais!”. Um secretário que pretendia locomoção oficial para a cerimônia de batizado de um filho, teve que faze-lo a pé por não haver providenciado a tempo outra condução. Não arriscava contrariar o chefe.

Estimulou a política de imigração, implantou escolas de artes industriais, incentivou o plantio do trigo e demonstrou sérias apreensões com a questão de limites com Santa Catarina. Líder carismático, manteve-se na liderança política do Estado durante muitos anos. Foi dos mentores da Coligação Republicana que, em 1908, reuniu os antigos inimigos, pica-paus e maragatos, mas teve sua participação muito questionada nesse episódio por influenciar o pedido de renuncia do presidente eleito João Cândido Ferreira, seu aliado político. Houve reações a esse acordo, principalmente entre maragatos históricos, entre os quais João Menezes Dória e Amazonas Araújo Marcondes. Abriu-se significativa dissidência que lançou contra a candidatura de Xavier da Silva a de Ubaldino do Amaral, embora sem êxito. Ficaram seqüelas dessas ocorrências que vão repercutir mais tarde.

Senador por seis legislaturas, Xavier da Silva ocupou amplos espaços na tumultuada história política da 1ª República. A mais disputada das suas eleições ao Senado verificou-se em 1915. Juntamente com o senador Alencar Guimarães liderou o movimento de contestação dentro do Partido Republicano Paranaense, conhecido historicamente como “Concentração Republicana”, de frontal desafio à autoridade do presidente Carlos Cavalcanti e do chefe do partido, Affonso Camargo. Agora a fórmula se invertia. Ubaldino do Amaral era candidato da situação e Xavier da Silva da oposição. Venceu Ubaldino, mas a comissão de verificação de poderes do Senado, controlada pelo senador Pinheiro Machado, que manobrava a política nacional, invalidou dezenas de votos de urnas favoráveis a Ubaldino, revertendo o resultado em favor de Xavier da Silva. Affonso Camargo nunca perdoou essa perfídia e logo que assumiu o domínio absoluto da política paranaense, procurou lançar seus dois rivais ao ostracismo.

Xavier da Silva teve o pressentimento das potencialidades do Estado, embora o clima acanhado em que se desenvolvia a administração. Seus adversários chamavam-no de “monge” por permanecer solteiro e viver uma vida reservada, introspectiva, sem gosto para as frivolidades palacianas; e de “munheca” dada a rigorosa austeridade dos seus atos e extrema parcimônia nos gastos.

Inimigo das mordomias e do desperdício, deixou imagem de administrador probo e exemplar, pelo respeito que devotava à coisa republicana. Faleceu no Rio de Janeiro, como senador, em 11 de junho de 1922.

Biografia: História biográfica da república no Paraná.
Foto: Galeria do Salão dos Governadores do Palácio Iguaçu, reproduzida por Simone Fabiano.