João Menezes Dória

João Menezes Dória nasceu em Paranaguá em 27 de outubro de 1857. Era filho do cidadão italiano Luis Dória, natural de Turim, que adotou como segundo prenome Tibiriçá, por simpatizar com a figura do cacique indígena, e de Adelaide de Menezes, de ilustre família de Paranaguá.

Luiz e Josepe vieram para o Brasil para não serem chamados à guerra que ameaçava seu país por uma questão da Savoia. Josepe ficou na Bahia e Luiz veio ao Paraná, onde se radicou. Como todo italiano, possuía espírito artístico.

Luiz logo ficou amigo do Maestro Bento A. de Menezes, do engenheiro Ricardo (que trabalhava na construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba) e de suas irmãs Francisca, pianista e cantora, e de Adelaide, com quem se casou.



Claro que ao centro de convergência era o Maestro Bento, que tocava violão, rabecão, violino, harpa, cítara, piano, e que formava com as irmãs e a cunhada Maria Cândida, uma interessante orquestra, a que Luiz aderiu apaixonadamente. Adelaide, pianista consumada, fez parte da orquestra que tocou no Paço Imperial por ocasião da abertura da temporada lírica, quando já existiam seus filhos João, Henrique e Arthur.

João Menezes Dória fez seus estudos primários em Paranaguá, e iniciou em Curitiba o secundário, que só completou no Rio, para ingressar em estudos superiores. Para conseguir meios de continuar estudando, passou a lecionar. Formado em 1879, já casado, em primeiras núpcias com Delfina Machado Leal, de Niterói, com essa esposa teve dois filhos: Edgard e Sílvio.

Em 1881 foi para Ponta Grossa, onde iniciou sua carreira como médico de todas as fazendas dos arredores da cidade. Mais tarde veio para Curitiba, trazendo do interior uma fortuna apreciável e ingressou na política.
Agitado, algo boêmio, mas homem de excelente coração, algumas passagens da sua vida são conhecidas: certa vez, meio adoentado, foi chamado a atender uma criança que passava mal. Sua tendência foi a alegar sua própria enfermidade. Quando soube que se tratava do filho de um inimigo político, vestiu-se às pressas e foi. Era um caso de difteria e a criança não podia respirar quando o Dr. Dória chegou. Aplicou então o último recurso: realizar respiração forçada aplicando a sua boca à da criança, arriscando sua própria vida. Resultado: salvou-se a criança e ele ficou com difteria. Ganhou, porém, dedicações incondicionais.

Durante a revolução de 1894 no Paraná, o seu prestígio médico refletia-se na política. Maragato fanático, excedia-se na ousadia e combatividade, rebelde e corajoso, era constante desafio aos adversários que o respeitavam e admiravam ao mesmo tempo. Criava dissidências com a mesma facilidade com que aglutinava aliados. Parecia figura saída dos romances de capa e espada.

Seus sistemas táticos, durante os agitados dias de 1894, fizeram época, mas como no centro o Marechal Floriano era o mais forte, teve que fugir aos primeiros sinais de derrocada. Exilou-se com outros amigos em Buenos Aires, e só voltou à Pátria depois de anistiado. Tornou a casar-se em 1898.

Durante um período de um ou dois decênios absteve-se de intervenção política; mas aos poucos retornou as lides, criando jornais de oposição e tomando atitudes intensamente agressivas, até que, durante o governo de seu antigo correligionário Affonso Camargo, com quem aliás se desaviera havia muito, de sociedade com Otávio do Amaral pelo “O Estado” iniciou uma campanha demolidora contra a reputação do presidente, que causaria a sua prisão imediata, se não recebesse o recado: “Dr. Dória: Esconda-se porque a polícia tem mandado de prisão contra si e anda no seu encalço. Diga ao seu advogado que veja o Artigo 316 da Lei n 322 de 8 de Maio de 1899”. Esse recado anônimo indicava a origem: “Um amigo a quem já o senhor fez bem”.

O resto de sua vida, mesmo depois de 1930, continuou lutando, especialmente como franco atirador em política, muitas vezes em desacordo com seus antigos correligionários.

E como médico, fazendo ao seu redor o maior bem possível, na realidade foi uma figura invulgar, que a sua beleza física facilitava para os lances de dramaticidade aventurosa.

Faleceu no Rio de Janeiro, a 04 de dezembro de 1934, quando para ali foi em busca de alívio para seus males. Tinha então 77 anos. Está sepultado no Cemitério de S. João Batista.

Biografia: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.
Ilustração: Theodoro de Bona e Dulce Ozinski.