José Pereira dos Santos Andrade

José Pereira dos Santos Andrade nasceu na cidade de Paranaguá, no dia 09 de abril de 1842. Era filho natural, logo legitimado, do Comendador Antônio Ricardo dos Santos, que foi vice-presidente da Província do Paraná, tendo estado no exercício da presidência em 1887.

Procurou o comendador dar ao filho, ao qual nunca deixou de evidenciar sua preferência, uma educação acorde com um futuro que para ele, naturalmente e como seu sucessor, almejava. Estudou primeiras letras em sua cidade natal e iniciou preparatórios em Curitiba, partindo para o Rio da Prata aos 18 anos de idade para que, no mercado platino, adquirisse a prática do comércio e os pequenos segredos da sua vivência.


Mas, ao contrário do que seu pai supunha, não pôde adaptar-se bem no estrangeiro, e pediu para voltar, sendo mandado diretamente para São Paulo, onde completou os preparatórios e chegou a iniciar o seu curso de Direito.

Estava encaminhado na Faculdade de São Paulo, quando por um mal entendido com a família partiu para Minas Gerais, onde tentou ganhar a vida, passando a advogar como provisionado. Mas, tendo voltado a ajeitar-se com seu pai, seguiu em 1860 para o Recife, onde terminou o curso de Direito, obtendo o grau de bacharel em 1865.

Nomeado promotor público em Antonina, nesse cargo ainda se manteve por alguns anos, mas decidiu não aceitar o lugar de Juiz Municipal que da Província de Minas seus amigos e correligionários lhe ofereciam. Satisfazendo os desejos de seu progenitor que lhe oferecia trabalho em sua firma comercial e nas suas fábricas de erva-mate, em Morretes e depois em Curitiba, o bacharel foi ser comerciante, entrando na vida prática.

Não deixou, porém, de militar na política local, registrado como estava entre os conservadores militantes e ativos, de cujo partido era seu progenitor um dos mais prestigiosos chefes provinciais.

A nova carreira do comércio, da indústria e das finanças, exercida com inteligência e competência não o impediria de exercer cargos vários de eleição popular. Assim, foi deputado provincial em várias legislaturas e logo que o Partido Republicano se fortaleceu com os elementos melhores dos “saquaremas” e dos “luzias” do regime monárquico, ele esteve entre os elementos mais aproveitáveis do antigo regime, elegendo-se Senador junto com Generoso Marques e Ubaldino do Amaral, com os quais ombreava sem desdouro.

Foi ele, pois, um dos constituintes de 1891 como representante do Paraná, e teve oportunidade de assinar o manifesto-protesto contra o golpe de estado do Marechal Deodoro da Fonseca de novembro de 1891.

Deixou sua cadeira no Senado quando foi eleito para a presidência do Paraná.

Seu período de governo foi excelente. Os quatro anos que vão de 1896 a 1900, foram de calma, de justiça, e tanto quanto possível, de apaziguamento dos ódios que a revolução federalista de 1893-94 derramara e intensificara no Paraná, dividindo as famílias e até dentro do seio de cada uma delas, separando os seus membros mais exaltados.

No período final do seu governo teve ocasião de mostrar que quando necessário fosse, sua têmpera seria de aço, e sua energia das mais notáveis.

Baseando-se em leis que nem o governo paranaense, nem o federal, podiam reconhecer, tentaram os catarinenses ocupar grande parte do território paranaense da região contestada. Forte coluna da polícia barriga verde, embarcada em lanchas e vapores pretendeu realizar a navegação dos rios Negro e Iguaçu, da jurisdição paranaense. Contrapôs força a força e desarmou os soldados do Estado vizinho, arrecadando-se, na ocasião, todas as armas e munições, em grande profusão aliás.

É de lastimar-se que esse fato ocorresse já no período final de seu governo e que a sua moléstia e conseqüente morte o impedissem de ministrar ao conflito a solução brilhante que imaginara, para dar fim, desde 1900, ao dissídio e ao Contestado.

Pedira ele ao Senador Joaquim Lacerda que gozava, junto com Hercilio luz, de Lauro Müeller e de Felipe Schmidt, de extraordinário prestígio, que mediasse junto aos catarinenses uma intervenção agradável e depois judicial, com aquiescência dos Congressos dos dois Estados, para que o laudo arbitral do cel. Joaquim Lacerda fosse definitivo e aceito como irrevogável. O assunto foi ventilado, mas arrefeceu com o seu desaparecimento.

É para lastimar-se eternamente que a solução não houvesse surgido sob a sua incontestável liderança, cujo patriotismo é fácil de reconhecer pelo brilho e prudência das suas soluções. Também a sua tolerância política era notável.

Nomeou oficial de gabinete a um antigo adversário, o cel. Luiz França, ilustre e digno paranaense, cujos méritos pessoais todos reconheciam, e que ele soube aproveitar em benefício da sociedade.

Durante sua administração, saindo o Estado do Paraná de um período de extrema agitação e de desgaste completo com a revolução que o invadira, viu-se em seríssima dificuldades financeiras e também econômicas. Exaustos de recursos os cofres públicos, não havendo de onde tirar impostos para o equilíbrio orçamentário, os funcionários públicos não podiam ser pagos e o atraso se avolumou. A sua atitude, nessa emergência, foi das mais generosas.

Deixou de receber seus vencimentos. Enquanto todos os funcionários, do mais alto ao mais humilde, não estivessem pagos e satisfeitos. Na realidade, essa remuneração, relegada durante quatro anos, só foi recebida pelos seus herdeiros, muito tempo depois.

Dotado de força hercúlea, de compleição atlética, estimava mostrar seu poder muscular, mas também possuía lúcida memória.

Florianista apaixonado, muitas vezes acompanhou o Marechal vice-presidente da República, nas suas visitas de inspeção ao Morro do Castelo e às fortificações da Guanabara, arsenais de Guerra e da Marinha, e outros pontos de grande risco, para onde convergiam os tiros da Esquadra revoltada, sob o comando do Almirante Saldanha da Gama. Era então, senador. Apesar de sua posição política, ofereceu-se, como comandante do 7º Batalhão da Guerra Nacional, para seguir na vanguarda da coluna do General Pires Ferreira, que em 1894 avançou pelo Itararé e retomou o Estado do Paraná, que a revolução, malgrado sua tendência à dissolução, ainda conseguia manter. Sua administração terminou a 25 de fevereiro de 1900, e poucos meses mais tarde ele falecia em sua chácara do Barigui, de moléstia cardiovascular fulminante. Sua morte teve lugar a 15 de junho de 1900 em Curitiba.

Biografia: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.
Foto: Galeria do Salão dos Governantes do Palácio Iguaçu, reproduzida pro Simone Fabiano.