Manoel de Alencar Guimarães

Nasceu no dia 13 de dezembro de 1865 em Buenos Aires, onde seu pai Manoel Antônio Guimarães, filho do Visconde Nacar, do mesmo nome, se encontrava no desempenho da função de Cônsul Geral do Brasil. Adquiriu a cidadania brasileira por expresso dispositivo constitucional. Cumpriu seus estudos preliminares alternadamente, em locais que as permanentes viagens permitiam. Todavia, fixou-se em Recife para concluir o curso superior, graduando-se em Direito, ao tempo que seu tio, Manoel Eufrásio Correia, presidia a então Província de Pernambuco.

Exerceu o cargo de Promotor Público em Nazaré e Palmares e de Ajudante do Procurador dos Feitos da Fazenda, em 1887, ainda naquela Província. Voltou no ano seguinte para Curitiba, nomeado juiz municipal. Em seguida, Chefe da Polícia, em comissão, quando a República engatinhava (1891).

Aderiu ao novo regime e exerceu o cargo de secretário de estatística em 1890. Durante o período da Junta Governativa ocupou, outra vez, a Chefia de Polícia. Ingressou definitivamente na política, elegendo-se deputado constituinte em 1892, tendo papel saliente na comissão encarregada do anteprojeto da comissão de 07 de abril, presidida por Vicente Machado. Reelegeu-se sucessivamente ao Congresso Legislativo estadual.

Sua atuação parlamentar sempre brilhante a tempestuosa, pois polemista, culto e desassombrado, logo assumiu a liderança do Estado, notadamente como porta-voz do senador Pinheiro Machado, o homem-forte da República.

Elegeu-se deputado federal em 1894 e reelegeu-se em 1900. Voltou, a seguir, ao Congresso Legislativo, presidindo-o em 1908, ano em que ocupou interinamente a presidência do Estado, como conseqüência da Coligação Republicana de 25 de fevereiro a 26 de abril. Foi, em seguida, levado ao Senado, onde cumpriu cinco legislaturas. A Coligação Republicana foi um movimento político ordenado a inviabilizar a posse do presidente eleito, no Estado, João Cândido Ferreira, provocando surpreendente aliança entre republicanos e os maragatos. Coube-lhe o comando das articulações. Em 1915 liderou histórica dissidência no Partido Republicano Paranaense, denominada “Concentração Republicana”, através da qual rompeu com o presidente Carlos Cavalcanti.

Combateu de frente a ascensão do domínio de Affonso Camargo que, no exercício da vice-presidência, já deixava sinais inequívocos de crescimento e prestígio. Adversário tenaz e franco, ele impressionava pela cultura jurídica e eloqüência tribunícia. Aliás, foi relevante sua passagem pelo Senado, onde participou da comissão responsável pela elaboração do Código Civil, desde 1910 até a formulação do parecer, cinco anos depois. Manteve acesos debates com Ruy Barbosa, tal a sua erudição. Com a morte do senador Pinheiro Machado, em 1915, Alencar Guimarães viu declinar sua estrela, enfraquecendo politicamente.

Na sucessão de Carlos Cavalcanti apoiou o nome de Randolpho Pereira Serzedelo contra a candidatura de Affonso Camargo. Derrotado, viu-se no ostracismo. Partidários do candidato vencido, Xavier da Silva e Generoso Marques dos Santos, também perderam espaço no Partido Republicano Paranaense. Começava o predomínio absoluto de Affonso Camargo que só estiolaria em 1930.

Sem nenhuma perspectiva no Paraná, mudou-se para o Rio. Aceitou convite do presidente Epitácio Pessoa para o cargo de tesoureiro da Comissão do Centenário da Independência (1922), no qual se houve com elogiada probidade e eficiência. No governo Washington Luiz foi nomeado Inspetor Consular para a América do Sul e sul da África (1927).

Publicou em 1916: “Questão dos limites Paraná-Santa Catarina”, monografia em que define seus conceitos a propósito do Contestado, para cuja presidência sugeria um plebiscito. Pertenceu ao Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Exerceu mandatos legislativos durante 28 anos seguidos. Somente depois da Revolução de 1930 voltaria à ativa, nomeado para o Departamento Administrativo do Estado e depois para secretário geral do Conselho Técnico de Economia e Finanças, nos quais pode contribuir com as luzes da sua experiência e capacidade intelectual. Por ocasião do seu centenário, o então deputado Newton Carneiro diria na Câmara dos Deputados: “Dos mais cheios, dos mais fecundos, dos mais belos currículos parlamentares que encerram a vida pública brasileira”.

Desprendido e idealista, não amealhou fortuna que as posições políticas teriam permitido. Terminou seus dias em casa alugada à rua Emiliano Pernetta, nesta capital. Doou sua vasta biblioteca à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.

Faleceu a 09 de setembro de 1940, em Curitiba, “pobre, alquebrado, atormentado por uma surdez mortificante. Mas, digno, respeitado, ereto e plutarqueano”. Seus funerais foram custeados pelo governo do Estado.

Biografia: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.