Américo Lobo Leite Pereira
Descendente pelo lado paterno das famílias Lobo Leite Pereira e Coelho Seabra e pelo lado materno das famílias Lopes de Araújo e Toledo Pisa, foi casado com Manoela Urbana de Queiroz Lobo, cujos pais pertenciam às famílias Rezende e Barrios Bueno (o casamento foi realizado em 1864).
Era irmão do notável engenheiro Francisco Lobo Leite Pereira, antigo comandante da Escola Central (hoje Escola Nacional de Engenharia), (anteriormente Escola Politécnica do Rio de janeiro); de Fernando Lobo Leite Pereira (deputado, senador, antigo Ministro das Relações Exteriores e da Justiça e Negócios Interiores do Governo do Marechal Floriano Peixoto, constituinte de 1891 e vice-presidente do Banco do Brasil em 1895, de que foi posteriormente diretor) e de Joaquim Lobo Leite Pereira, médico, propagandista da República, jornalista, etc.
Aos 15 anos de idade perdeu seu pai e assume, como primogênito, a chefia da família. Logo, em seguida, falece sua mãe.
Diz Múcio Leão (Jornal do Brasil de 22.10.1937) “Fernando Lobo, juntamente com seus dois irmãos mais velhos, fez curso secundário no Seminário de São Bento, no Rio de Janeiro”. Entretanto, o Ministro Alfredo Valadão, na sua conferência no Instituto dos Advogados, por ocasião do centenário de nascimento de Américo Lobo, declama “feitas as humanidades na terra natal”.
O estudo da língua latina, cujo perfeito ensino constituía a base de Athenas Sul-Mineira, abriu sua inteligência lúcida e imaginosa, precocemente revelada, e assim se familiarizou com as Orações de Cícero, as Odes de Horácio, as Bucólicas, as Geórgicas e a Eneida de Virgílio. Américo Lobo segue logo para São Paulo, onde se matricula, afinal, na Faculdade de Direito. Faz um curso brilhante. Bacharelou-se em 13 de dezembro de 1862. Quatro meses depois, nomeado Juiz Municipal e de Órfãos de Pouso Alegre (MG). A 30 de setembro de 1865, removido para o Termo de Rio Pardo. Em 1867, pediu demissão do cargo, empolgado que estava pela política, sendo eleito deputado geral pelo 5º Distrito de sua Província natal, fazendo parte das hostes liberais. Dissolvida a legislatura, voltou para Campanha. Onde instalou sua banca de advogado, transferindo-se em 1870 para a cidade de Leopoldina.
Abraçando a causa republicana, regressou, sem tardança, à política, fez a propaganda da Republica e da Abolição, com toda a força de sua inteligência e do seu espírito combativo.
Proclamou a República, por Decreto de fevereiro de 1890, nomeado governador do Estado do Paraná, em substituição do Dr. Uladislau Herculano de Freitas Guimarães, mas por breve período, seis meses. Exonerou-se a 01 de agosto, para candidatar-se à Constituinte, já atritado com o governo central por haver criado barreiras fiscais entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. Eleito em 15 de setembro, ainda em 1890, foi senador pelo Estado de Minas Gerais, durante três anos.
Os Anais do Senado e a conferência do Ministro Alfredo Valladão, falam como cumpriu o seu mandato. A reforma monetária foi dos muitos projetos apresentados por Américo Lobo, pelo qual o nome da nova moeda seria o “cruzeiro” (Souza Costa, que criou o cruzeiro em 1942, não se esqueceu do nome daquele que o idealizou).
Em Decreto de 15 de outubro de 1894, foi nomeado, e a oito de dezembro tomou posse do cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Pela sua conduta no mais alto Tribunal do país, pelo brilho das sentenças e pelo espírito de justiça, Lúcio de Mendonça comparou-o a Magnaud.
Américo Lobo, não obstante à sua vida intensa, foi apaixonado cultor das letras. Poeta, escreveu mais de uma centena de poemas e sonetos. Traduziu, em alexandrinos a “Evangelina”, o “Canto de Hiawatha” e os “Poemas da Escravidão” de Longfellow; “Tartufo”, de Molière; “O Corvo”, de E. Poe; algumas bucólicas de Virgílio e outras poesias de autores franceses, ingleses, americanos em latinos. Traduziu também as Decisões Constitucionais de Marshall (Presidente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América do Norte).
De Américo Lobo, disse, ainda Lúcio de Mendonça: “A lei, para ele, não podia ter a rigidez fria de uma régua, sim, mas como um raio solar que fere consolando e esclarecendo, como que adotara por lema a sentença SUMMUM JUS, SUMMA INJURIA, ou como quase se traduzia em verso português: Da vingança é congênere a justiça demasiada justa”.
Em setembro de 1890, Américo Lobo, hábil na retórica, pronunciou em discurso, na cidade de Leopoldina, em frente ao Teatro Alencar, as seguintes palavras antológicas “Minas possui tudo, meus senhores. É de todas as províncias a mais poderosa e a mais rica! Só lhe falta mar. E, creiam, se o mar, além, suspira e geme, é porque está longe de Minas”.
Tinha cinco filhos: José, advogado, poeta, falecido em 03.12.1921; Estevam Lobo Leite Pereira, advogado, deputado federal, Lente da Escola de Direito de Belo Horizonte, escritor, etc., falecido em 13.09.1908; Maíra Elisa, falecida em 13.07.1956; Américo Lobo Leite Pereira Junior, falecido a 19.07.1943 e Antonio Lobo Leite Pereira, inspetor federal do ensino secundário, advogado, conhecedor profundo da matemática, latim e grego e também sânscrito.
Faleceu quando ocupava o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 1º de outubro de 1903. Sucedeu-o, interinamente, Joaquim Monteiro de Carvalho e Silva, de 28 de julho a 28 de agosto.
Biografia: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994.
Ilustração: Theodoro de Bona e Dulce Ozinski.